Celebração a Santa Bárbara reúne milhares de fiés no Centro Histórico de Salvador

As ruas do Centro Histórico de Salvador amanheceram tomadas pelo vermelho nesta quinta-feira (4), quando milhares de pessoas celebraram mais uma edição da Festa de Santa Bárbara. O cortejo, que mistura devoção católica e raízes das religiões de matriz africana, abriu mais uma vez o calendário de festejos populares da cidade, renovando uma tradição que atravessa séculos desde o seu início, no século 17, e que segue viva tanto na fé em Santa Bárbara quanto no culto a Iansã.

Logo cedo, por volta das 6h, a Alvorada de Fogos marcou o início da programação, seguida pela Salva dos Clarins e pela missa campal diante da Igreja do Rosário dos Pretos. Depois, fiéis acompanharam a procissão pelas ruas do Pelourinho, passando por caminhos consagrados pela festa, como Gregório de Mattos, João de Deus, Terreiro de Jesus, Praça da Sé e Ladeira da Praça, até chegar à sede do Corpo de Bombeiros na Barroquinha, onde a padroeira da corporação foi reverenciada. O cortejo seguiu pela Baixa dos Sapateiros, Rua Padre Agostinho e retornou ao Pelourinho.

Entre os participantes, estava Samara Alves, de 48 anos, moradora de Pau da Lima e aniversariante do dia. Ela contou que repete um ritual que atravessa gerações em sua família. “Venho para a Festa de Santa Bárbara desde criança. Minha avó costumava me trazer dizendo que esse dia era sagrado para nossa família. Eu inicio a celebração de todos os meus aniversários aqui. Minha avó já faleceu, mas continuo a tradição com o mesmo carinho e gratidão. A energia daqui me renova e me faz lembrar de tudo o que já vivi sob a proteção dela”, disse.

A emoção da festa também movia a comerciante Vânia dos Santos, de 52 anos, moradora da Mata Escura, que reconheceu nesta data uma espécie de reencontro anual. “Santa Bárbara sempre esteve presente nos momentos mais difíceis da minha vida. Quando chego ao Pelourinho no dia 4, sinto como se abraçasse uma velha amiga. É uma emoção que não consigo explicar. A missa, o cortejo, o vermelho por toda parte, enfim, tudo isso toca meu coração de um jeito especial”, contou.

Ao lado dela, o marido Alessandro dos Santos, de 65 anos, que falou sobre o esforço que faz, mesmo aposentado e com problemas de locomoção, para visitar as ruas do Centro Histórico neste dia. “Para mim, participar da festa é agradecer pelas conquistas do ano, principalmente pela saúde. Trabalhei aqui na região por muitos anos, então sempre participei da festa de alguma forma, seja trabalhando e ao mesmo tempo acompanhando os fiéis. Agora, sempre que posso faço questão de sair acompanhando o cortejo. É uma data que me fortalece e me lembra do quanto a fé move a gente”, afirmou.

Representantes da Prefeitura de Salvador ressaltaram o impacto cultural e social do evento. O diretor do Distrito do Centro Histórico, Sérgio Freire, afirmou que a Festa de Santa Bárbara “é uma das celebrações mais importantes de Salvador, unindo fé, tradição e cultura popular”. “Realizada no Centro Histórico, ela movimenta o comércio e atrai milhares de visitantes, fortalecendo o turismo religioso e revitalizando as ruas e praças do nosso Centro Histórico. Valoriza o patrimônio e reforça a identidade cultural da cidade. A festa transforma o espaço em um palco de devoção, diversidade e renovação das tradições afro-brasileiras, que são a essência deste local”, completou o diretor.

O presidente da Empresa Salvador Turismo (Saltur), Isaac Edington, classificou a Festa de Santa Bárbara como “uma das expressões mais profundas da fé e do sincretismo religioso que marcam a identidade de Salvador”. “Abrir o calendário popular 25/26 com essa celebração é reconhecer a força das nossas tradições, que unem católicos e devotos de Iansã em um mesmo gesto de respeito, energia e renovação. É um dia em que a cidade reafirma sua essência: plural, diversa e culturalmente vibrante”, afirmou Isaac.

Já o diretor de Arte e Fomento Cultural da Fundação Gregório de Mattos (FGM), George Vladimir, enfatizou o papel simbólico e social da celebração. “A Festa de Santa Bárbara possui grande importância para a cidade, especialmente por sua capacidade de valorizar o Centro Histórico, em particular a Baixa dos Sapateiros. Este local, reconhecido como um ponto de referência cultural e social, é perpetuado na memória através das nossas canções e da nossa literatura”, disse.

“A celebração da festa, realizada no Mercado de Santa Bárbara, nas imediações do Pelourinho, demonstra-se crucial para a sua preservação. A festa se destaca pela valorização da fé e pelo respeito à diversidade religiosa baiana, evidenciado na celebração conjunta de Santa Bárbara e Iansã, entidades que, embora distintas, se unem em um sincretismo que simboliza a valorização da mulher e seu empoderamento na sociedade. Por esses motivos, a festa de Santa Bárbara tem conquistado cada vez mais relevância e visibilidade, reforçando sua importância na valorização da fé, da cultura e da identidade soteropolitana”, emendou George.

Foto: Bruno Concha / Secom PMS

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